quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Amor de Sonho


Há muito tempo que um fim de tarde não se apresentava tão belo. O sol que, no horizonte, lentamente mergulhava nas serenas águas do mar, tingia todo o céu de tons amarelo-alaranjados, de uma forma que até ali nunca reparara, fazendo adivinhar que aquele dia marcaria para sempre a sua vida. Nem o burburinho habitual da cidade que se preparava para adormecer, com as suas gentes a correr de um lado para o outro, fazia Nuno despertar da sua letargia. Introvertido, calmo por natureza, gostava de levar uma vida regrada, previsível, dominando todos os acontecimentos que lhe diziam respeito. Naquele dia, ao contrário do que habitualmente fazia, fora obrigado a mudar a sua rotina por força do compromisso profissional que, inesperadamente, lhe surgira. Apesar do aborrecimento inicial, a magia daquele momento acalmara-o e enquanto esperava que chegasse a hora do cocktail de recepção a uma qualquer artista plástica Romena convidada pela Associação Novos Talentos, a que pertencia, resolvera tomar um café na esplanada onde habitualmente tomava o pequeno-almoço, recuperando forças e ansiando pelo momento de regressar a casa. A hora aproximava-se, mas mais valia ficar um pouco mais por ali, desfrutar daquele momento a sós, do que chegar cedo e ter que fazer conversa de circunstância. Detestava esperar e ter que inventar assunto para romper o incómodo silêncio que muitas vezes pairava no ar daquele tipo de eventos. Estava na hora...Chamou o empregado, pagou e calmamente percorreu a Avenida, sempre junto ao mar, em direcção ao Forte de São Tiago, local do evento. Pelo caminho, entre contemplações sobre o mar que docilmente banhava a baía do Funchal, não conseguia evitar olhar para os casais de namorados que ali faziam, por certo, juras de amor, planos para o futuro e todo o tipo de promessas e sonhos que nos invadem quando estamos apaixonados. Também ele já fizera o mesmo nos seus tempos de juventude. Agora, com 36 anos, casado e com uma vida estável, tudo aquilo lhe parecia distante. Acreditava que a paixão era efémera e que o amor mais não era do que o acumular de vivências partilhadas com a pessoa que se escolheu para connosco envelhecer. Assim que entrou no Forte, virou à direita sem precisar perguntar onde decorreria o evento já que o alvoroço que se fazia sentir ao fundo facilmente lhe servia de orientação. Cumprimentou os conhecidos enquanto perscrutava o local em busca de alguém com quem lhe apetecesse conversar. Junto à entrada do pequeno túnel estava o Presidente da Associação Novos Talentos e a sua esposa Margarida, mulher vistosa e muito simpática que, no entanto, tinha o defeito de gostar de ser o centro das atenções. Assim que viu Nuno, Margarida efusivamente e com o habitual alarido o chamou para perto de si:
— Estava a ver que não vinhas... — disse Margarida e continuou — Vem cá... Quero apresentar-te a nossa convidada de honra, uma mulher interessantíssima e com um talento enorme.
Sem grande entusiasmo, Nuno seguiu Margarida que continuava a falar das qualidades e talento da artista. Ao fundo, junto à muralha, um grupo de pessoas concentrava-se junto a alguém que Nuno deduziu ser a homenageada.
— Nuno esta é Cristina, uma proeminente artista no seu país, mas ainda desconhecida entre nós.
Cristina era uma mulher impressionante, não era alta, mas os seus olhos verdes com os sedosos cabelos louros a tombar gentilmente sobre os ombros descobertos pelo vestido que trazia tornavam-na extremamente atraente, diferente das mulheres com quem normalmente se cruzava no dia-a-dia.
— Muito prazer. — Respondeu Nuno, meio sem jeito e sem saber bem o que dizer. Não conseguia pensar em nada minimamente inteligente. Percebendo o embaraço Margarida logo interveio:
— A Cristina estava curiosa por te conhecer. Ela viu os quadros que pintaste, aqueles que estão na Sede.
Nuno não se considerava um verdadeiro pintor, nunca expusera, pintava apenas para auto-recriação e quando a sede da Associação abrira, dois anos antes, pintara dois quadros para embelezar a sala de reuniões. Sentia-se agora embaraçado...Ser alvo de curiosidade de uma artista plástica e ainda por cima alguém como Cristina.
— Você pinta muito bem...nota-se uma sensibilidade especial na forma como dispõe as cores e lhes dá textura.
O embaraço de Nuno logo foi substituído pela curiosidade. Aquela bela mulher falava muito bem português, sendo a sua origem traída apenas pelo leve sotaque com que docemente proferia as palavras.
— Onde aprendeu a falar tão bem a nossa língua?
— Os meus pais são portugueses e desde pequenina que sempre fizeram questão que eu aprendesse a língua de Camões.
A forma cândida como se exprimia, a doçura do seu olhar, o seu exotismo natural, cativava de forma inquestionável todos os presentes, tornando agora aquele momento, mágico. Nuno até se esquecera que pouco tempo antes não tinha vontade para ali estar e agora queria saber cada vez mais coisas sobre Cristina, ao que ela retribuía com igual interesse. Trocavam opiniões, partilhavam experiências de tal modo que Margarida, perspicaz como era, dando-se conta que não conseguia já chamar as atenções sobre si, afastou-se deixando os dois absortos na sua apaixonada troca de impressões. Tão distraídos estavam que o tempo passava e nem se davam conta que a noite já tinha caído há muito tempo e que começava a fazer-se tarde. Nuno sentia-se inebriado pelo encanto daquela mulher. Muitos convidados haviam já abandonado a recepção. Chegara também o momento dele partir. Tinha prometido à sua mulher não chegar tarde. Olhou Cristina nos olhos de forma intensa e, propositadamente despediu-se acentuando algumas palavras:
— Tenho que ir...Foi um prazer MUITO grande, mas mesmo MUITO grande conhecê-la. Espero que nos voltemos a encontrar...
Despediu-se dos restantes presentes que conhecia e saiu. Meteu-se no seu automóvel e de forma quase automática ia conduzindo. Revia agora os últimos momentos do seu dia, sentia-se feliz mesmo sem saber porquê. Aquela mulher não lhe saía do pensamento. Rua da Mãe dos Homens, tinha chegado a casa, o seu porto seguro que, estranhamente, lhe parecia agora demasiado monótono. Um novo dia nasceu e depois outro e mais outro e a imagem de Cristina perseguia-o constantemente. Tinha que voltar a vê-la, conhecê-la melhor. Achava-a fascinante. Mas como conseguir o contacto, como promover uma nova oportunidade para desfrutar da sua companhia sem parecer atrevido ou mal intencionado? Não queria que considerassem estranho o seu interesse, até porque queria apenas ter o prazer da sua companhia antes dela partir de volta para a Roménia. Lembrou-se que a solução teria que passar por Margarida. Havia de encontrar uma desculpa para arrancar o contacto de Cristina.
— Olá Margarida! A Cristina mostrou interesse, no dia em que nos conhecemos, em saber mais sobre uma técnica tradicional de pintar sobre tela que eu uso... mas não tenho como a contactar. Consegues-me o contacto?
Sem questionar, Margarida, prontamente providenciou o tão almejado passaporte para poder se encontrar novamente com aquela Deusa Romena. Faltava ainda um derradeiro pormenor. Lembrar-se-ia Cristina dele? Aceitaria um convite seu? Se calhar não... Iria tentar na mesma...
— Está sim? Cristina? É o Nuno....Conhecemo-nos no início da semana no cocktail...Não sei se ainda te lembras de mim...
Hesitava, sentia-se inseguro, tinha medo da resposta....
— Claro que me lembro...
Nuno respirava fundo, sentia-se agora mais aliviado e confiante...Ela lembrava-se dele e dissera-o de forma determinada.
— Gostava que nos encontrássemos...
Ainda Nuno não tinha terminado e logo a resposta foi positiva. Afinal, também ela queria encontrar-se com ele. A tarde parecia nunca mais terminar, as horas passavam devagar, lá fora a chuva caía torrencialmente. Nuno deixara de trabalhar e olhava as gotas da chuva a baterem no parapeito do seu gabinete. Estava ansioso, nervoso até...não conseguia controlar os seus pensamentos nem entendia o que estava a sentir. Sabia apenas que uma vontade enorme o fulminava e atraía para perto de Cristina. Finalmente a hora se aproximava. Não queria chegar cedo demais mas também não queria que Cristina esperasse até porque a vontade de estar perto dela era enorme. Meteu-se no carro e “voou” perigosamente no seu encalço. Continuava a chover copiosamente...Não previra que o trânsito, próprio dos dias de chuva, o atrasasse. Chegara ao local marcado. Estava muito atrasado. As pessoas vestidas de escuro amontoavam-se para se abrigarem da chuva. Na sua direcção, a correr, graciosamente uma mulher, de gabardine clara, destacava-se da multidão...Era Cristina!
Entrou no carro e ambos foram refugiar-se numa agradável casa de chá. Ali passaram momentos de intensa partilha de vivências passadas, de sonhos desfeitos, de aspirações presentes, de planos futuros…De tantas coisas falaram…Tanto ficou ainda por dizer… Sem se darem conta, aqueles dois seres encontravam-se, agora, mais do que nunca, próximos um do outro. Parecia que se conheciam desde sempre. O bom senso aconselhava Nuno a regressar a casa. Saíram. Deixara de chover. Cristina ia indicando o caminho para a sua casa…
— Os meus pais moraram aqui, nesta rua — Disse Nuno.
Subitamente Cristina deixou de falar, ficou atónita…Era naquela mesma rua que morava agora….
— É nesta rua que eu moro…
Pararam os dois…Seria coisa do destino? Cristina comprara a casa ao lado daquela onde Nuno crescera, onde se fizera homem. Passavam agora onde ele brincara toda a sua infância, onde namorara às escondidas dos pais, onde muitos anos antes sonhara com a mulher ideal para consigo envelhecer. O automóvel imobilizou-se. Já não conseguiam disfarçar o fascínio que brotava entre ambos e entregaram-se nos braços um do outro, num profundo e apaixonado roçar de lábios. O poder do universo concentrara-se naquele momento em seus corpos, tudo o resto fora esquecido, sentiam-se a flutuar inebriados pela paixão. Lentamente os lábios foram-se afastando, olhavam-se agora um ao outro sem saber bem o que dizer. Sabiam que tinham ultrapassado os convénios sociais vigentes, afinal Nuno era casado…Cristina saiu e Nuno partiu. Perscrutava o seu íntimo, o que estava a acontecer com ele? Estava confuso, descia em direcção à Rochinha sem saber o que fazer. Apesar de tudo estava feliz. Na sua mente apenas uma certeza…não queria afastar-se de Cristina. Nessa noite mal pregou o olho, entre o peso na consciência, a paixão do beijo, o acelerar do coração, o transgredir das regras sociais, o não querer magoar ninguém, ficava a incerteza quanto ao futuro. Seriam estes sentimentos passageiros? Esforçava-se por pensar que sim e que tudo se iria resolver com o tempo. Passaram dias, semanas, depois meses e os encontros entre ambos tornavam-se cada vez mais regulares, mais intensos e as despedidas mais difíceis e dolorosas. Entregavam-se um ao outro de forma tão apaixonada que enquanto estavam juntos o resto do mundo pouco lhes interessava. O que sentiam era tão forte que até quem estava próximo se apercebia que o que os unia estava muito para além de uma simples amizade. Tinham sido talhados um para o outro, eram almas gémeas, se havia casal que devia estar junto eram concerteza Cristina e Nuno. Margarida, desconfiada daquela amizade tão intensa, juntara as várias pistas que o enamorado casal de forma descuidada aqui e ali iam deixando e logo percebeu o que se passava. Amiga de ambos e sabendo que trilhavam um caminho perigoso, hora aconselhava Cristina a abandonar a relação, hora dizia a Nuno para assumir definitivamente o que sentia. Nuno acreditava que o mais correcto era afastar-se daquela escaldante e intensa relação que os consumia mas o seu coração não deixava. Tantas vezes pensou em romper o relacionamento e outras tantas cedeu à vontade de estar com a mulher que tanto o seduzia. Cristina tinha a esperança que Nuno tomasse a tão almejada decisão e assumisse a sua relação mas não ousava pressioná-lo, queria que o fizesse por vontade própria. O tempo passava e as coisas não se resolviam por si tal como esperara Nuno no início. Havia que tomar uma decisão de forma fria. Teriam que terminar tudo. Terminaram num pranto de lágrimas por considerarem que aquela era a melhor decisão, despediram-se prometendo amarem-se um ao outro para sempre. Mas um amor como aquele não se apaga assim e nem a distância os faziam esquecer. Arranjavam sempre desculpas para se cruzarem um com o outro. Veio o dia em que as forças de ambos cederam e voltaram a sentir o calor dos seus corpos num encontro repleto de paixão. Saciada tanta saudade, tanto amor, tanto desejo, logo a dúvida pairou sobre ambos como se de uma nuvem negra em dia de sol se tratasse. Não poderiam continuar assim, ardendo de desejo, consumindo-se na própria paixão reprimida.
— E agora? O que vamos fazer? — Questionou Cristina.
— Deixa o tempo resolver as coisas.
Cristina, mulher decidida que andava desde há muito a adiar o seu regresso à Roménia, percebera que teria que ser ela a tomar a grande decisão.
— Vou voltar para a Roménia, não quero continuar escondida. Estou cansada! — Disse Cristina com uma tal frieza que Nuno nem acreditou que a mulher carinhosa que amava tinha proferido tal frase. Cristina sentia-se a quebrar por dentro, continha as lágrimas com todas as forças que tinha, a dor roçava os limites do suportável, mas mesmo assim manteve o rosto sério, fechado e concluiu:
— Nuno, eu amo-te muito mas esta situação está a tornar-se insustentável. O melhor será afastarmo-nos definitivamente, Ando a adiar o meu regresso à Roménia há muito tempo. Talvez o melhor seja eu partir o mais brevemente possível. Vou tentar o regresso talvez ainda esta semana!
Atónito, Nuno nem ousou proferir qualquer palavra. Só poderia ser brincadeira. Um amor como o deles não podia terminar assim. Convenceu-se que não era a sério e achou melhor deixar passar. Afinal já haviam terminado outras vezes e sempre a reconciliação tinha prevalecido, Cristina reconsideraria. Passou um dia, dois, três e nada...Não tinha notícias de Cristina. Resolveu ligar e o telemóvel estava desligado. Tentou uma e outra vez e nada...Foi a sua casa, tocou na campainha e....Ninguém atendeu.
— Não está ninguém! A senhora que aí mora foi pró estrangeiro. — Respondeu uma vizinha.
A notícia dilacerou o seu peito, foi como se tivesse sido esmurrado no estômago. Cristina tinha cumprido a ameaça. Tinha partido para a Roménia. Incrédulo, regressou para o trabalho. Sentia-se agora sem forças, com um aperto no peito que o sufocava, sem rumo...Sem vontade de viver. Perdera a mulher que amava e ninguém tinha um contacto seu. Procurou desesperadamente encontrar a mulher dos seus sonhos mas todas as tentativas foram em vão. Aos poucos foi perdendo a esperança...Aos poucos foi voltando à sua vida rotineira, ao conforto do seu lar. Meses depois recebeu uma carta...Vinha da Roménia...Cristina conhecera um Romeno com quem se casara. Decidira dar um rumo à sua vida, constituir família. Era o golpe final. Ainda bem que a fase pior já passara e agora aquela notícia do casamento de Cristina parecia mais suportável. Não tinha outro remédio a não ser tentar sufocar o seu amor e continuar a viver. Os anos passaram, Nuno teve um filho e a ele dedicou a sua vida, o seu afecto e a sua atenção. Tentou camuflar a tristeza que o invadia, mas até quando olhava para o seu filho imaginava como teria sido se aquela criança tivesse nascido no seio de uma vida a dois com Cristina. Acabou por se divorciar. Via o filho aos fins de semana e de quinze em quinze dias ficavam juntos.
— Pedro...hoje começam as Festas da Freguesia e parece que há animação lá para baixo, na Zona Velha... — Disse Nuno — Queres ir com o pai?
A Criança respondeu afirmativamente com muita alegria, antevendo a possibilidade de o pai comprar-lhe uma série de guloseimas. Desceram à baixa. A animação era muita...Havia muita gente de um lado para o outro... Gargalhadas, uma verdadeira festa.
— Fica perto do pai... Não fujas porque podes perder-te.
Estavam perto do forte de São Tiago e Nuno começou a recordar que fora ali que conhecera, anos antes, a mais bela mulher que vira na vida.
— Pedro, vamos ver o forte por dentro.
O petiz, entusiasmado com a fortaleza, só perguntava por piratas e soldados mas Nuno quase nem o escutava, tão embrenhado estava nas suas recordações. Estaria a sonhar? Não podia ser. Era, por certo, uma alucinação. Conhecia aquela silhueta...
— Cristina? — Balbuciou meio trôpego.
A Mulher olhou na direcção da voz...Não, não era quem Nuno pensara. Por momentos os seus olhos encheram-se de esperança. Pediu desculpa e regressou em direcção à saída.
— Nuno? — Parecia que alguém o chamava. Mais uma alucinação por certo. — Nunoooo!
Não restavam dúvidas, alguém o chamava e conhecia aquela voz. Não queria acreditar. Sim...Cristina estava mesmo ali. Os anos tinham sido benevolentes. A sua beleza era agora suprema.
— Que fazes aqui? Quando chegaste? — Perguntou Nuno ainda incrédulo.
— Cheguei ontem à noite...e pelos vistos tivemos a mesma ideia.— Respondeu Cristina.
— Eu adoro o forte. Traz-me imensas e boas recordações. Foi aqui que conheci alguém muito especial. A mais bela mulher de sempre — Complementou Nuno fixando-a nos olhos.
Cristina ruborizou.
— É teu filho?
— É!...É o meu Pedrinho. E tu? Tens filhos?
— Não...Separei-me e não tivemos crianças— Disse Cristina.
Nuno não queria acreditar no que os seus ouvidos tinham escutado.
— E vives com alguém neste momento?
Nuno sabia que estava a ser indiscreto mas não queria perder mais tempo para escutar a resposta. A sua curiosidade sobreponha-se a qualquer regra de etiqueta.
— Estou só...Separei pouco tempo depois de casar. Não deu certo! — Disse Cristina encolhendo os ombros.
A lua parecia agora mais luminosa do que nunca, a brisa que soprava do mar parecia agora perfumada, o ruído das gentes em festa tornara-se numa melodia. Cristina estava ali e livre, pensava Nuno e desta vez ele não tinha qualquer compromisso. Estaria a vida a lhe dar uma segunda oportunidade? Logo, logo iria saber.
— Eu também estou só....divorciei-me. Nós vamos comer qualquer coisa. Queres vir connosco? — Perguntou um pouco a medo Nuno.
Com um ar radiante Cristina brindou Nuno com um redondo:
— Claro que sim!...
Recordaram, naquela noite, muitos episódios do passado, reviveram toda uma vida que secretamente tinham tido, interrompidos aqui e ali pelo irrequieto Pedrinho. Combinaram voltar a encontrar-se novamente no dia seguinte. Encontraram-se uma e outra vez, até que a regularidade dos encontros os tornou inseparáveis. Faziam agora o que antes não podiam. Andavam de mão dada, iam ao cinema como namorados, viviam um verdadeiro romance, viviam o seu amor.
— Queres casar comigo? Perdemos já tanto tempo... — Disse um dia Nuno.
— Estive a vida toda à espera que me fizesses essa pergunta.— Respondeu Cristina com as lágrimas a correrem pelo seu rosto.
Finalmente seriam felizes, finalmente podiam materializar em toda a plenitude um amor que, até aí, apenas o fora em sonho.

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